Hoje é um dia especial, é 23 de janeiro de 2015, data que celebrarias 90 anos de vida se estivesses entre nós. Por vezes dou por mim, a imaginar-te como serias com esta idade...
Se assim fosse, organizávamos uma festa, uma grande festa onde estaríamos todos à volta de uma grande mesa, em que todos riamos, sorríamos, falaríamos e celebraríamos a vida, a tua vida. Aí tu serias a figura principal e todos nós te abraçávamos, beijávamos enquanto tu sorrias e os teus olhos brilhavam de alegria como duas estrelas cintilantes que antecedem um dia primaveril. Também havia presentes, muitos presentes, mas os maiores presentes seriam o facto de estarmos todos juntos a celebrar o teu aniversário.
Seria uma festa como outras que quando em crianças e adolescentes nos juntávamos, festejávamos e vivíamos com alegria.
Agora restam as saudades, a angústia e a certeza de que esse tempo não volta mais.
Eram dezoito horas do dia 5 de abril do ano 1984, início de mais uma linda primavera que num brutal acidente partiste para não mais voltares. Tinha sido uma saída esporádica que estava programada com regresso a casa para o fim da tarde. Todavia DEUS decidiu que não fosse assim, quis que partisses para o além, cedo demais para quem tinha ainda muito para dar e receber.
O meu coração ficou tão destroçado que me recusava acreditar que era verdade. Pensava eu que só irias morrer quando fosses velhinha, tal como aconteceu com a avó Ana, mas não foi assim.
O tempo que se seguiu foi de dor, de tristeza e desconsolo. À medida que o tempo ia passando mais difícil era viver sem a tua presença em casa. Decidi então, comunicar contigo através da escrita, num diário que ainda hoje guardo com muito carinho. Falava contigo como se tivesses partido para uma longa viagem, acreditando que um dia irias voltar. Pura ilusão a minha, tu partiste para sempre e agora não estás cá para celebrarmos o dia do teu aniversário.
Até um dia mãe.
Até um dia mãe.
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